sábado, 26 de julho de 2008
Ausência presente
Why so serious?
No dia 18 deste mês, em plenas férias, estreou o filme mais esperado do ano, Batman – O Cavaleiro das Trevas. Este filme, caso vocês não saibam, é um verdadeiro exemplo a ser seguido em termos de marketing viral, a campanha realizada para divulgar o longa e criar, com isto, o frisson e expectativas foi considerado um dos mais bem executados até hoje. Integrando a liberação de materiais em doses homeopáticas, para aos poucos aumentar a curiosidade da galera. A publicidade efetivada foi responsável por fomentar a cada novo cartaz, vídeo, trailer, e fotos (que iam aparecendo na internet e TV), o que estava por vir. Os sites oficiais também iam interagindo uns com os outros, exemplo, foi o site dedicado ao Batman que, em sua última semana da campanha, foi supostamente invadido pelo personagem do Coringa, que saiu pichando todas as páginas e imagens do site, destilando seu humor e sarcasmo. Todos esses componentes ajudaram para que o público ficasse numa tremenda ansiedade, loucos para conferir, enfim, o filme.
E nossa! Muito já se falou sobre esta nova produção. Antes, e agora, depois que o filme estreou. Críticos de renome, que puderam ter acesso ao material antes, disseram categoricamente, que o filme estava espetacular. Porém, para muitos outros, o filme só está fazendo o sucesso atual devido sua campanha publicitária, e mesmo que se diga que ele trás uma história tensa e profunda, não passa de uma produção hollywoodiana, o mais conhecido cinepipoca, vazio e superficial. Mas será? Vamos analisar o filme friamente, sem pensar no seu processo preparatório, sem estar já com aquela mentalidade preconceituosa, de que se trata de um filme voltado apenas para bilheterias. Vamos pensar no que se está vendo, vamos esquecer a histeria dos fãs de Heath Ledger e mesmo desta sensação que se tornou o lançamento de Batman, em torno da morte prematura deste excelente ator. Vamos esquecer tudo o que possa nos influenciar e analisar através de critérios embasados, este longa tão aguardado. Porque só assim, teremos uma análise realmente verdadeira e adequadamente merecida ao filme.
Bom, para começar, se você for assistir O cavaleiro das trevas sem ter visto Begins, realmente, não compreenderá a película da mesma maneira como se o tivesse feito. Então, recomendo a todos que assistam o primeiro, para estarem integrados ao universo sombrio e mais realista criado por Christian Nolan (diretor), que deu um tom mais verdadeiro ao longa, assemelhando o filme de maneira primorosa aos quadrinhos.
Assim, Batman – O Cavaleiro das Trevas se caracteriza por ser tenso do início ao fim, e acreditem, até o momento em que se encerra o filme e aparecem os créditos a adrenalina não para. Como esperado as cenas de ação são muito bem executadas, assim como os efeitos que nos surpreendem a cada instante. No entanto, mais do que seqüências de luta, este filme carrega consigo uma trama muito bem escrita e executada, com diálogos inteligentes, reviravoltas alucinantes, e interpretações brilhantes, sendo um dos poucos filmes baseados em HQs a trazer realmente uma história de verdade. Isso porque, todas as vezes que se tenta adaptar grandes histórias em quadrinhos para as telonas, os resultados sempre permeiam em grandes efeitos especiais e histórias rasas, entretanto não é o caso desta seqüência.
Begins abordou o início do Batman, seu nascimento, nos mostrando como e porque Bruce Wayne decidiu seguir por este caminho, de herói justiceiro, nos levando junto com ele na sua jornada de auto-conhecimento. Algo parecido já tinha sido abordado em vários longas anteriores, mas não tão bem contado e executado. A grande importância de Begins foi a inovação de se abdicar de estilizações e imagens caricatas e partir para uma visão mais realista da história. Primeiro passo dado abriu-se então uma brecha para a criação de uma trama que já não precisaria se preocupar em apresentar personagens e sim, desenrolar seu enredo num ritmo mais forte, estabelecendo um novo nível, ocasionando no desenvolvimento deste anti-herói fascinante.
Assim, depois de dois anos a cidade de Gotham, encontra em Batman uma solução para combater a criminalidade constituída através da máfia que domina as ruas. Tendo esfriado as incertas dos criminosos, tudo parece se encaminhar para algo melhor, porém a presença de um novo criminoso, que tem por natureza sua excentricidade psicótica anárquica, leva tudo por terra. Coringa (o vilão), que tem por princípios não seguir regra alguma, cria na cidade de Gotham um ambiente de terror e medo. Obcecado por seus objetivos destrutivos e Batman, ele é o responsável por desenvolver surpreendentemente a trama antagonista com maestria. E nem tente adivinhar seus planos, pois o Coringa tem sempre uma carta na manga para lhe surpreender. Batman, assim, se vê em meio ao seu maior desafio.
As interpretações no filme estão excelentes. Michael Cane (Alfred), como sempre, expressa sua sabedoria e sutileza (muito bem humorada) ao se apresentar como a figura paterna que ainda resta ao bilionário Bruce Wayne. Falando nele, Christian Bale (Bruce Wayne/Batman) também está excelente, embora muitos críticos tenham argumentado que sua interpretação foi apagada comparada ao do Coringa, isto não é verdade. Bale dentro do seu papel desenvolveu e passou o morcegão de nível, assumindo-se de forma mais veemente como anti-herói que é. Talvez a única ressalva em sua interpretação seja a impostação de voz desenvolvida por Batman, que ficou assustadora e ao mesmo tempo engraçada. Parecia que ele precisava urgente, de uma pastilha de menta, mas... Fora isso, encontramos na trama um Batman violento, sagaz e concentrado em seus objetivos, como nunca se viu antes.
Harvey Dent é muito bem representado por Aaron Eckhart, que desenvolve o nascimento de um novo vilão, o Duas Caras. Maggie Gylhenhall trouxe mais expressividade, a anterior sem sal, Rachel. O agora, Comissário Gordon, está perfeito na pele de Gary Oldman. E por último, logicamente não menos importante, está o Coringa, que definitivamente está sensacional, mas veja bem, isso nada tem haver com a morte do ator, e sim com a sua interpretação, que traduz em expressão e voz a construção de um personagem sólido, extremamente carismático e doente. É impressionante poder observar como Ledger desenvolveu algo totalmente novo em cima de uma imagem tão batida e caricaturada, sua ironia e sarcasmo misturado a momentos fortes de violência conseguem transmitir de maneira verossímil a demência e inteligência deste vilão psicótico, que se alterna entre momentos cômicos e assustadores,
Confiram o trailer aqui (que dá apenas uma leve idéia de quanto o filme é bom):
Posso dizer sem receios que Batman – O Cavaleiro das Trevas é o melhor filme do ano, a melhor adaptação dos quadrinhos realizada até hoje, (difícil de ser superada). E é isso tudo mesmo. Não pelo marketing viral, que vem se desenrolando praticamente um ano antes de seu lançamento, mas sim por sua qualidade, que envolve tudo (cenário, efeitos, figurino, interpretações e principalmente por sua história bem executada). Claro, que uma coisa ou outra pode não agradar, aliás, a coisa mais difícil na vida é deixar a todos satisfeitos. Porém, aos críticos de plantão que se preocupam em ressaltar e procurar apenas os defeitos dos filmes, e que olham torto analisando Batman de cara fechada, destilando apenas seu veneno disfarçado de credibilidade, deixo a eles uma sutil pergunta, ao porque desta não aceitação, pergunta essa vinda do próprio antagonista deste filme: - Why so serious?